quinta-feira, 2 de julho de 2009

Billie é .. beautiful rsrsr is life!

...
A arte é uma consequência da alma humana que não pede licença para brotar em nenhum lugar. Com elegância ou com feiúra . Marginalizada ou legalmente reconhecida. Mais conceitual ou menos conceitual. Enfim: ela simplesmente surge e se faz reconhecer como arte e ponto final. A arte é a expressão da alma do ser humano, o reflexo da sua aspiração e da sua afinidade ou relutância para com o meio terrestre em que ele vive. E uma das expressões artísticas contemporâneas que mais tem fascinado é o grafite, pela sua capacidade de carregar mensagens mais explícitas e pelo volume de criatividade que seus respectivos artistas - a maioria anônimos - tem mostrado nos muros dos grandes centros urbanos e, atualmente, até nas galerias do museus. Sim, queiram ou não, já trata-se de um autêntico nicho artístico, de uma vertente da arte contemporânea rotulada como Arte de Rua ou Street Art, em inglês.


O grafite foi, inicialmente nos anos 70, uma expressão que surgiu como forma de protesto e anarquismo dentro dos redutos do hip hop americano - usando tintas aerosol ou spray, os jovens negros do Bronx costumavam grafitar (ou pixar) mensagens e imagens em muros, prédios e trens do metrô com críticas ao governo e ao sistema como um todo. A partir dos anos 80, o hip hop passou a ser visto não mais como um estilo musical das ruas ou uma música marginal, mas sim um novo estilo que podia ser sofisticado e moldado aos propósitos do mercado como um novo da chamada "cultura de mídia". Se nos EUA até os jovens brancos de classe-média estavam aderindo ao estilo do hip hop, significava que o estilo - e a filosofia como um todo - tinha um grande poder de absorver as aspirações das novas juventudes em qualquer lugar do mundo onde a apreciação musical e as manifestações sociais fossem livres. Foi aí, então, que o rap e hip hop rapidamente se espalharam pelo mundo todo através da globalização, que permitiu com que gravadoras midiáticas - Columbia, Sony, Verve e cia - exportassem-os como as novas propostas de moda e de musica do mundo pop, a partir dos anos 80 e 90. E o grafite, assim como o estilo hip hop de se vestir e a respectiva dança chamada break , foi exportado junto ao rap aos maiores centros do mundo: era como os jovens deveriam se expressar frente à sociedade injusta em que viviam; era o estigma da rebeldia de uma nova juventude prestes ultrapassar o século 21, assim como o rock havia sido nos anos 60 para a juventude da época. No livro A Cultura da Mídia do filósofo americano Douglas Kellner, há capítulos inteiro dedicados aos impactos da cultura pop e da black music, dos cartoons e quadrinhos, da blaxploitation, bem como do grafite, rap e seus afluentes, com menção inclusive do jazz como uma das possíveis fontes de origem junto ao funk, haja vista que o rapper Gill Scott-Heron foi um autêtico músico de jazz em seu início de carreira e, mais tarde, foi considerado um "divisor de águas" para o novo estilo de rhythm'n'poetry que surgiria a partir de meados da década de 70: o rap.


Os Gêmeos

O Grafite - ou grafitti em inglês - também foi se sofisticando na mão de talentosos pixadores de parede nos grandes centros urbanos. As pessoas mais jovens, que cresceram nesses centros, não precisam ser lembradas da má imagem que um pixador de parede tinha - e ainda tem - frente à sociedade: era quase um criminoso. Mas, sem teorias sociais e muito menos leis que pudessem fundamentar a má índole que um pixador de parede pudesse ter, o movimento do grafite foi se expandindo e criando artistas autênticos que deixaram de ser simples pixadores rebeldes para serem autênticos artistas de rua ou os precursores da chamada Street Art - aliás, hoje em dia não só há uma distinção de um autêntico artista de rua em relação à um pixador, como também há rivalidades entre essas duas classes de manisfestantes urbanos: um é artista, o outro um vândalo. E assim como o rap se tornou uma música de mercado e até de pesquisa, o grafite passou a ser visto não mais como uma expressão marginal, mas como uma nova vertente da arte contemporânea, um novo nicho artístico. Trata-se, portanto, de um fenômeno mundial - não é uma especulação. Trata-se de um fato.

Ora, bem antes lá nos anos 80 já ocorrera um fato de sofisticação da arte de rua que ficou mundialmente conhecido: o sucesso do grande pintor Jean-Michel Basquiat, que começou a se expressar com frases e assinaturas nas paredes e metrôs de Nova Iorque e ,logo depois, apadrinhado por Andy Warhol (pioneiro da Pop-Art), chegou com grande sucesso às galerias dos museus de arte moderna, sendo reconhecido como um dos artistas mais originais de todos os tempos. E de uns tempos para cá, então, cada vez mais outros talentosos artistas de rua estão subindo os degraus do reconhecimento midiático e passando a ser contratados por grandes museus e instituições de arte para expor suas pinturas. Inclusive, temos exemplos desse fenômeno aqui mesmo no Brasil: em São Paulo, onde há um relevante pioneirismo do grafite desde o final da década de 70, houve grandes pioneiros do desenvovimento da Street Art: como os artistas paulistanos Allex Valauri e Hudinilson Jr e, mais tarde, Gustavo Pandolfo e Otávio Pandolfo, que assinam como osgêmeos, e Hamilton Yokota, que assina como Titi Freak, foram alguns dos pioneiros do gênero aqui no Brasil.
No caso de Allex Valauri e Hudinilson Jr, a escolha de muros como telas de pintura não foi um reflexo apenas da influencia do hip hop, mas sim uma consequência do estudo às novas formas de se expressar, bem como da necessidade de diversificar a arte e quebrar velhos paradigmas artisticos, impondo outras vias de expressão: os dois artistas trabalhavam com outras expressões como a gravura, a pintura sobre bottons, o uso do papel stencil, adesivos, camisetas e objetos e até foram os pioneiros da pequisa do uso do kitsch dentro do espaço urbano aqui no Brasil. Inclusive eles fizeram parte de um coletivo de artistas trangressores chamado 3NÓS3, que desde o final dos anos 70 já vinham fazendo manifestações como pintar imagens e mensagens em muros da cidade de São Paulo, encapuzar as principais esculturas públicas da cidade com sacos de lixo e escrever mensagens de libertação nas portas das principais galerias de arte: como aconteceu em 1979, quando o grupo deixou um X com fita crepe nas portas das galerias acrescido da mensagem "O que está dentro fica, o que está fora se expande" - era uma petição do reconhecimento à arte performática acabada de surgir nas ruas dos rappers, skatistas, punkers e libertários afins.
Já no caso dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, os osgêmeos, o movimento hip hop paulistano foi o principal ponto de origem à caminhada para a arte que hoje representam. Moradores do bairro paulistano Cambuci, eles passaram a desenvolver um estilo próprio diferente do já tarimbado estilo do grafite americano. Tanto que em meados dos anos 90 eles passaram a ser reconhecidos pelos principais pesquisadores do gênero e, logo após esse reconhecimento, passaram a ser chamados para desenvolver trabalhos em grandes espaços e galerias internacionais. As fachadas da galeria Tate Modern, em Londres, e do castelo de Kelburn, na Escócia, foram ilustratas pelas mãos dos dois artistas de São Paulo que, quando mais jovens, viviam perambulando entre os points do movimento hip hop e as ruas da cidade à procura de muros que pudessem ser ilustrados. No entanto, apesar de surgirem das ruas e do hip hop, eles são sinceros e condizentes quanto à transposição e sofisticação que os talentosos representantes da chamada Street Art vém recebendo: "Ao sairmos das ruas para os museus, o nosso trabalho deixou de ser Street Art. O grafite sempre foi das ruas e nós nunca esperávamos que ele fosse parar nas galerias. Mas foram uma consquência dos trabalhos que ficaram mais sérios e profissionais. Para nós foi uma experiência trabalhar com novos objetos e com novos espaços".

quarta-feira, 25 de março de 2009

Guerrilheiro do séc. XXI? ... Quero ser Banksy...







Banksy é o anônimo mais famoso que existe. Seu nome solicitado ao Google gera mais de um milhão de páginas. Bansky ficou anonimamente famoso com a sua streetart, com os seus graffiti inicialmente pintados em Bristol na Inglaterra, mas depois em várias outras cidades do mundo.
Os locais por ele escolhido são os mais diversificados. Tanto pode ser um muro em um local abandonado, como uma parede de uma loja em uma rua bem movimentada de uma metrópole; pode ser Berlin, em um monumento russo, ou na Faixa de Gaza. (…)





No início do ano passado a famosa Sotheby de Londres vendeu um quadro de Banksy por 80.000 euros. Alguns graffiti de Banksy valem mais do que as próprias casas nas quais eles foram pintados. Sua técnica é a do estêncil que ele prepara cuidadosamente em casa e na rua basta o tempo para fixá-lo e utilizar o spray. É fatal que o homem conhecido como Banksy seja o maior artista de rua dos nossos tempos. O alcance global do conteúdo de suas obras, aliados à uma certa onipresença e a ousadia na escolha dos lugares a serem interferidos (a Disneylandia ou os pingüins do Zoológico de Londres) fizeram de seus stenciles imediatamente reconhecíveis pelo grande público mas, a despeito disso, seu nome verdadeiro, ano de nascimento e cidade natal permanecem um mistério.
Desde o ano passado, pedaços de rua grafitados têm sido arrancados e vendidos no e-Bay a 20 mil libras. Tanto furor tem a ver com a crescente atenção e importância que as intervenções urbanas vêm ganharam nos grandes e médios centros urbanos de todo mundo depois de saírem da esfera da pichação pura – uma concorrência entre grupos e indivíduos pichadores cujo objetivo é, essencialmente, elevarem seus nome e assinaturas através do vandalismo mais arriscado. As intervenções urbanas são agora parte da chamada arte contemporânea pelo refinamento dos objetivos, referências das gravuras e complexidade das mesmas; são instalações artísticas à céu aberto que hoje dialogam com o aspecto do pixe (nada de tintas nobres, técnicas acadêmicas ou amenidades) e com as grandes galerias de arte.
Banksy é um dos cabeças-de-chave desse movimento que têm levado as ruas para dentro dos museus e a arte para transeuntes. Suas gravuras possuem um claro conteúdo político, rebelde, que se derrama em sarcasmos tão violentos quanto sutis: o soldado sendo revistado pela menininha, o guerrilheiro que joga um buquê de flores ao invés de uma bomba, a empregada varrendo a sujeira para dentro da parede, os dois assassinos de Pulp Fiction portando bananas ao invés de armas, ou portando armas, mas vestidos de bananas. São protestos que podem ser compreendidos e sentidos do mesmo modo por londrinos e colombianos, Banksy mexe com a cultura de massa, com os produtos e a miséria nossa de cada dia e depois embala tudo com tinta preta e referências à artistas contemporâneos como a fotógrafa norte-americana Diane Arbus ou o pop-artist Andy Warhol. Sua obra é carregada de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder. Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade. Suas pinturas protestam a guerra, o capitalismo, a publicidade e a opressão de animais.
Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reacção de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.

Site oficial:

http://banksy.co.uk/







Se Marx disse, em outros tempos, “proletários de todo o mundo, uni-vos”, agora é a altura de Banksy, um dos mais emblemáticos artistas de rua do mundo, dizer “graffiteiros de todo o mundo, uni-vos”.






terça-feira, 10 de março de 2009

O Desejo de Deleuze...







"... tarefa de filósofo, pretendíamos propor um novo conceito de desejo. As pessoas, quando não fazem filosofia, não devem crer que é um conceito muito abstrato, ao contrário, ele remete a coisas bem simples, concretas. Veremos isso. Não há conceito filosófico que não remeta a determinações não filosóficas, é simples, é bem concreto. Queríamos dizer a coisa mais simples do mundo: que até agora vocês falaram abstratamente do desejo, pois extraem um objeto que é, supostamente, objeto de seu desejo. Então podem dizer: desejo uma mulher, desejo partir, viajar, desejo isso e aquilo. E nós dizíamos algo realmente simples: vocês nunca desejam alguém ou algo, desejam sempre um conjunto. Não é complicado. Nossa questão era: qual é a natureza das relações entre elementos para que haja desejo, para que eles se tornem desejáveis? Quero dizer, não desejo uma mulher, tenho vergonha de dizer uma coisa dessas. Proust disse, e é bonito em Proust: não desejo uma mulher, desejo também uma paisagem envolta nessa mulher, paisagem que posso não conhecer, que pressinto e enquanto não tiver desenrolado a paisagem que a envolve, não ficarei contente, ou seja, meu desejo não terminará, ficará insatisfeito. Aqui considero um conjunto com dois termos, mulher, paisagem, mas é algo bem diferente. Quando uma mulher diz: desejo um vestido, desejo tal vestido, tal chemisier, é evidente que não deseja tal vestido em abstrato. Ela o deseja em um contexto de vida dela, que ela vai organizar o desejo em relação não apenas com uma paisagem, mas com pessoas que são suas amigas, ou que não são suas amigas, com sua profissão, etc. Nunca desejo algo sozinho, desejo bem mais, também não desejo um conjunto, desejo em um conjunto.."

_______________________________________________
* fragmento da entrevista "O Abecedário de Gilles Deleuze" da série de entrevistas, feita por Claire Parnet nos anos 1988-1989.

http://intermidias.blogspot.com/
neste link tem a entrevista na integra.

* foto 2 - minha cena favorita do filme do Bergman : O Sétimo Selo (1957). Inesquecível partida de xadrez entre o cavaleiro e a morte que mudou para sempre a face do cinema, eterno jogo entre a luz e as trevas.
Qual a associação? Bem, Deleuze suicidou-se em 4 de novembro de 1995. Talvez tenha travado uma jogada de xadrez e tanto tbm.... Praticamente um xeque-mate.

sábado, 7 de março de 2009

Desejos Perpétuos...

"Seres humanos são criaturas de Desejo.Eles se torcem e dobram como eu exijo."

Só há uma coisa pra se ver no reino crepuscular de Desejo. É o que se chama limiar, a fortaleza do Desejo. Desejo sempre morou no limite. O limiar é maior do que podemos imaginar. É uma estátua de Desejo,ele ou ela própria.(Desejo nunca se satisfez com um único sexo. Ou apenas uma de qualquer coisa... Exceto, talvez, o próprio limiar.)O limiar é um retrato do Desejo,completo em todos os detalhes, erguido, a partir de seus caprichos, com sangue,carne, osso e pele. E, como toda verdadeira cidadela desde o início dos tempos, o limiar é habitado. O lugar só tem um ocupante neste momento.O Desejo dos Perpétuos. O limiar é grande demais para apenas uma pessoa. Contém dois tímpanos maiores que uma dúzia de salões de baile. E veias vazias e ressonantes como túneis. É possível andar nelas até envelhecer e morrer sem passar novamente pelo mesmo lugar. Entretanto, dado o temperamento de Desejo, só há um lugar em toda a catedral de seu corpo que lhe serve como lar. Desejo mora no coração.
É improvável que qualquer retrato consiga fazer jus a Desejo,pois vê-la (ou vê-lo)seria o mesmo que amá-lo(ou amá-la) - apaixonadamente,dolorosamente, até a exclusão de tudo o mais. Desejo exala um perfume quase subliminar de pêssegos no verão e projeta duas sombras: uma negra e de nítidos contornos; a outra sempre ondulante,como neblina no calor. Desejo sorri em breves lampejos, da mesma forma que o brilho do Sol reluz no gume de uma faca. E há muito, muito mais do gumede uma faca na essência de Desejo. Jamais a(o) possuída(o), sempreo(a) possuidor(a), com pele tão pálida quanto fumaça, e olhos aguçados como vinho. Desejo é tudo o que você sempre quis. Quem quer que seja você. O que quer que seja você.Tudo.

_________________________________________________
http://www.sonhar.net/php/index.php

* Sandman é uma revista de história em quadrinhos Foi criada por Neil Gaiman em 1988. Suas histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do Sonhar (o mundo dos sonhos) e sua interação com o universo, os homens e outras criaturas. Os Perpétuos ou Sem Fim (Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio) são um grupo de seres que personificam vários aspectos do universo na série de história em quadrinhos Sandman, de Neil Gaiman. Eles existem desde a aurora dos tempos e acredita-se que estão entre as criaturas mais poderosas (ou pelo menos influentes) do universo Sandman, desempenhando papel central ao longo da história, em que Sonho é o protagonista.


Recomendo o filme MIRROR MASK , roteiro do Gaiman.
É um mergulho "fantástico ao mundo do SONHAR".

sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Louise Bourgeois desenvolveu uma lógica das pulsões, importando vincular sua obra aos grandes temas do conhecimento ou da literatura e não aos sistemas da arte. Melhor falar então de um material extraído de recalques e embates da vida como abandono e ira, desejo e agressão, comunicação e inacessibilidade do Outro. No confronto permanente entre pulsões de morte, angústia, medo e as pulsões da vida, a obra de Louise Bourgeois é uma dolorosa e triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física, não no sentido religioso, mas como a conversão da eletricidade em força. Digamos que a obra de Com o propósito de adquirir um melhor entendimento da obra de Louíse Bourgeois, é preciso estar atento aos questionamentos que certamente o seu trabalho, por sua especificidade nos coloca, assim como o espaço, o tempo e o ambiente artístico onde esta produção está inserida. A artista está envolvida em algum desses debates? Quais? Como? Por volta de 1968, inicia se uma radicalização dos artistas em torno de assuntos como a Guerra do Vietnã e a ascensão do movimento do poder Negro e da “Nova Esquerda” (políticas feministas, ecológicas e culturais). Entre essas discussões estava em evidência as críticas feministas que se apropriavam de palavras de ordem como “o pessoal é político” reforçando a idéia de que o aspecto da opressão que a mulher experimentava em sua própria vida tinha de fato uma dimensão política. Louíse Bourgeois fazia parte desse grupo e seu trabalho era reconhecido como uma das grandes representações dessa manifestação. Esses dados geram então outras curiosidades: Como ela faz de seu trabalho uma representação da manifestação feminista? Se estabelecermos um paralelo entre sua produção e a de outras artistas a que respostas chegaremos? Sendo autora de um número tão grande de desenhos, esculturas e instalações, é possível identificarmos uma linearidade em sua poética? Será possível identificar alguma característica capaz de facilitar o nosso entendimento á respeito dos ideais da arte da primeira metade do século em relação ás décadas subseqüentes?Caminhe pela territorialização de imensidões. São assim o corpo, a casa, a cidade e o desejo. Ou a geometria, a família e a insularidade. Obra antiplatônica, não se satisfaz com o mundo das idéias e conjecturas. Deseja ter um corpo.
Esta arte não despreza a intensa referência ao sujeito. Retira a mulher da zona da sombra da história da arte. E esse sujeito da arte é uma mulher. Depois de Bourgeois, o universo da arte já não será de mulheres no mundo dos homens, nem têm de falar aí a linguagem dos homens, mas tornar presente seu próprio desejo. Moda e roupa são partes de um código identificado com o feminino.

A imensa Aranha é trabalho, doação, proteção e previdência. É da potência da teia oferecer-nos acolhida ou enredar-nos como uma presa...


'A domesticidade é muito importante. Eu a acho avassaladora. Como tem de ser prática, paciente e prendada.'



--------------------------------------------------
lendo: A Desobediência Civil / Henry David Thoreau
ouvindo: Celson Fonseca, Odetta, Regina Carter, Mary Lou Wiliams

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Salve Sr. Bispo do Rosário!!! Abram passagem.


Artur Bispo do Rosário - artista brasileiro – este um ex-pugilista, ex-marinheiro e ex-empregado doméstico, negro, psicótico, nascido em 1909. Deixou um vasto acervo, composto de quase mil peças criadas ao longo de cinqüenta anos de confinamento do artista em uma instituição psiquiátrica. Essas peças, que vão desde objetos avulsos, como navios de madeiras ou uma roda de bicicleta, até assemblages, fardões, fichários, faixas, panôs, coleções de miniaturas, tabuleiros com peças de xadrez e um majestoso manto bordado, dentre vários outros artefatos, compunham o que o próprio artista designou de "registros sobre minha passagem sobre a terra", um catálogo de todas as coisas do mundo, que, segundo ele, seria apresentado a Deus no dia do Julgamento Final. De meados dos anos 50 até sua morte em 1989, Bispo se dedicou, com grande afinco e extraordinário senso de rigor, à sua missão, convicto de que tinha sido o escolhido de Deus para reconstruir o mundo após o fim de tudo, repovoando a terra com seus "objetos mumificados" e suas listas infinitas de nomes e imagens bordadas sobre panos ordinários. Buscava sua matéria prima no cotidiano mais imediato, nos redutos marginalizados da pobreza, no agora de sua própria experiência: sapatos, canecas, pentes, garrafas, latas, ferramentas, talheres, embalagens de produtos descartáveis, papelão, cobertores puídos, madeira arrancada das caixas de feira e dos cabos de vassouras, linha desfiada dos uniformes dos internos, botões, estatuetas de santos, brinquedos, enfim, tudo o que a sociedade jogou fora, tudo o que perdeu, esqueceu ou desprezou. Compôs, a partir desse entulho, uma narrativa visual de sua passagem pelo mundo, uma narrativa ordenada segundo as leis mais rigorosas da taxonomia e, ao mesmo tempo, atravessada pelo movimento espontâneo da imaginação. Nela, como explica Eliana Lourenço em ensaio sobre o artista, Bispo deixou inscrito o seu "desejo de buscar uma compreensão da ordem cósmica e de reordenar a vida". Seus objetos, mesmo que desvestidos do caráter funcional e descartável, ao serem subjetivizados pela posse e pela criatividade do artista, passam a dizer muito mais de seu contexto do que quando ocupavam simplesmente o espaço utilitário de suas funções imediatas. Eles adquirem uma linguagem, convertem-se em metonímias do próprio contexto de que foram tirados. As coleções de Bispo arrancam o objeto de sua própria inércia, dão-lhe um nome, um lugar e uma história. Ao mesmo tempo em que se configuram como registros de um tempo, de uma vida e de um contexto marcados pela pobreza, pela loucura e pela exclusão, elas se transfiguram em metáforas sempre renovadas do mundo, confirmando as palavras de um outro artista, Hélio Oiticica, segundo o qual "o objeto é a descoberta do mundo a cada instante".


Os objetos apresentados por Bispo em suas coleções são visivelmente enciclopédicos, pois abrangem toda a esfera das matérias a que o homem empresta uma forma. Eles compõem, em conexão com os inúmeros textos, desenhos, mapas, em geral bordados em roupas e estandartes, um mundo desordenado pelas suas próprias regras de organização, através do qual o artista busca dar um sentido à sua própria realidade.
Foto 1 Bispo com "sua " Assemblage.
Foto 2 Bispo com o Manto da passagem
Foto 3 " os ORFA" , ou seja objetos recobertos por fio azul.
* Leia o livro "O senhor do labirinto" da Luciana Hidalgo.
______________________________
no momento:
lendo: Vivências / Hermann Hesse
ouvindo: Nina Becker , Buika, Novelle Cuisine, Ravel, Little Joy, Arturo Marquez( não enjoo), Omara Portuondo,
filme: Som do coração, Apenas uma vez, ...